Quanto mais altos os muros das escolas, mais proteção, certo? Errado! A violência nas escolas não está restrita ao espaço físico.
Mais uma vez, sem diálogo com a sociedade, o governador Romeu Zema quer impor à comunidade escolar medidas simplistas para conter um problema complexo, já que .
Reportagem do jornal O Tempo realizou entrevistas com psicólogas e professoras de escolas e universidades que questionam o protocolo que prevê o controle do acesso às escolas. As críticas são contundentes:
“Protocolo de Zema ignora microviolência e função social das escolas em Minas”
As novas medidas, que, segundo os especialistas, não funcionam na prática, foram apresentadas na quarta-feira (12/04/23), depois que o tema ganhou ainda mais relevância com os recentes episódios violentos ocorridos em escolas de Minas Gerais e do país, que evidenciam a necessidade de novas estratégias para garantir a segurança de estudantes, trabalhadoras e trabalhadoras da educação.
Acesso restrito e afastamento do ecossistema social
As entrevistadas destacam o distanciamento da comunidade escolar da sociedade gerado pela restrição definitiva do acesso às unidades de ensino. Isso pode aumentar a violência e comprometer o desenvolvimento dos estudantes.
A professora Daniela Gonçalves Joaquim apontou:
“O que nós precisamos, na realidade, é de um programa que possa integrar a escola e a comunidade. Não é só neste espaço de estudo que o aluno tem problemas. Então, o que a gente pede é algo que inclua toda a população, as famílias desses estudantes, as comunidades do entorno das escolas. Um problema nesse ambiente externo vai ter consequências na escola, e vice-versa”,
Microviolências deixadas de lado
Outro problema não resolvido pelas imposições de Zema é o déficit de programas de capacitação no enfrentamento ao bullying, aos casos de descriminação, aos desentendimentos e outras microviolências que surgem nas escolas. Uma solução apontada seria investir em campanhas educacionais com o objetivo de frear a violência.
A professora na faculdade de educação UFMG e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), Valéria Cristina de Oliveira, que também foi entrevistada ressalta:
“Não ter uma resposta imediata para esses episódios de microviolências é um problema. As escolas não podem ignorar essas situações que fazem parte do cotidiano. Se ela ignorar isso hoje, amanhã pode se tornar um problema muito maior.”
Para a estudiosa, mais do que adotar tais medidas ou instalar equipamentos de segurança, as autoridades públicas precisam investir em campanhas educacionais a fim de conter a onda de violência que, segundo ela, tomou conta da sociedade. “A violência tem sido a resposta para qualquer forma de conflito, o que preocupa. É uma sociedade que sustenta um discurso de ódio e que acredita que o acesso a arma de fogo pode ser a solução. Embora pareça distante, isso afeta o ambiente escolar”, orienta.
Estrutura atual
Como forma de enfrentar os episódios de microviolência nas unidades de ensino, a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) diz apostar nos Núcleos de Acolhimento Educacional (NAEs). O programa segue as diretrizes da Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019, que prevê que as redes públicas de Educação Básica tenham serviços da psicologia e do serviço social.
Entretanto, a professora Daniela Gonçalves Joaquim, que desde 2003 atua na rede estadual de educação, em Minas Gerais, afirma que este é um serviço distante da comunidade escolar. “O psicólogo e o assistente social precisam atender dez escolas. Eles não dão conta”, denuncia a profissional. Daniela acredita que todas as unidades de ensino deveriam contar com esses profissionais, uma vez que os problemas de saúde mental estão mais frequentes, principalmente após a pandemia. “A população está adoecida e os estudantes também. Estão com síndrome do pânico, com crises de ansiedade. Esses profissionais também poderiam ajudar com os casos de bullying, racismo, LGBTfobia”, ressalta.
Fonte: O Tempo