Usuários do Ipsemg denunciam demora no atendimento e corredores cheios no hospital Israel Pinheiro — Foto: Divulgação O Tempo
Pacientes em macas pelos corredores, em cadeiras sem atendimento, falta de suprimentos básicos, essa é a realidade do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg). O cenário, que parece de guerra, é resultado da falta de investimentos do governo Zema no Ipsemg, que coloca os hospitais do instituto em situação de calamidade, gera sobrecarrega dos profissionais e agride a dignidade dos servidores que dedicaram e dedicam parte da vida ao Estado.
Símbolo de excelência no atendimento nas décadas de 1960 e 1970, o Ipsemg vem sendo sucateado diante do descaso do governo de Minas. Dos 6 mil funcionários que trabalhavam na rede em toda Minas Gerais, atualmente, são pouco menos de 2100 trabalhadores para todo o Estado.
A carência de médicos, consultórios ociosos e pacientes à espera de vaga para consulta compõem a lista de problemas verificados pela Deputada Beatriz Cerqueira (PT) em visita realizada pela Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ao Centro de Especialidades Médicas (CEM) e ao Centro Odontológico do Ipsemg em fevereiro deste ano.
As visitas foram parte de uma série de atividades que vem sendo realizada para apurar deficiências no atendimento do Ipsemg a seus beneficiários, que somente na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) somam 205 mil, dos quais 90 mil da Capital.
Centro de Especialidades
No CEM, unidade responsável pela realização de consultas eletivas e pré-agendadas, ou seja, aquelas que não demandam urgência, a parlamentar encontrou muitos beneficiários vindos de longe, sem agendamento, mas contando com a sorte de uma desistência. Como a professora aposentada do Estado Walderez Rocha, vários pacientes, sem conseguir agendar consulta pela central 155, pelo site ou pelo aplicativo do Ipsemg, comparecem pessoalmente ao centro esperando o surgimento de alguma vaga de última hora.
“Desde novembro, tento agendar uma consulta ginecológica para tratar de pólipos no útero. O Ipsemg está servindo só para nos cobrar a contribuição porque na hora que se precisa não se tem assistência.”, desabafa Walderez.
O gerente do CEM, Aldemar de Castro, disse esperar a nomeação para o CEM pelo menos mais 20 médicos aprovados em concurso. Outros 42 já ingressaram desde novembro do ano passado, dos quais três já deixaram a unidade. Segundo ele, a meta da atual gestão do Ipsemg é recuperar a média histórica de atendimento do CEM, de 28 mil consultas/mês. A média atual é está na faixa de 19 mil.
Em apresentação à comissão, ele demonstrou que os maiores gargalos do CEM estão nas cinco especialidades mais demandadas na unidade: ortopedia, cardiologia, ginecologia, oftalmologia e dermatologia. Nestas cinco áreas, a média diária de pacientes procurando presencialmente por uma desistência em 2023 foi de 127 pessoas, com 48 obtendo êxito. Ao longo de 2023 o percentual mensal de pessoas atendidas em razão das desistências oscilou entre 35% e 43%.
Centro Odontológico
No Centro Odontológico do Ipsemg, a situação não é diferente: os usuários chegam a esperar três meses por uma consulta de retorno. A falta de insumos e a crescente fila de espera por uma consulta estão diretamente ligadas ao défict de pessoal, que compromete o atendimento a conveniados. Apesar da capacidade de trabalho instalada para 140 dentistas, o centro conta hoje com 70 profissionais. Uma ala inteira do Centro Odontológico, com 21 consultórios, está fechada pela falta de dentistas. Como cada consultório pode receber dois profissionais (um em cada turno), só aí há uma defasagem de 42 dentistas, que poderiam atender, em média, 210 pacientes por dia.
Funcionária do Ipsemg há mais de 40 anos, a auxiliar de saúde bucal Jeancely Martins lamentou a situação atual do Centro Odontológico, que já contou com quase 300 dentistas. “Dá vontade de chorar”, comentou.
Como a maioria de seus colegas presentes, ela cobrou a nomeação de candidatos aprovados no concurso que teve resultado final recentemente homologado. Jeancely ainda se queixou dos salários pagos pelo Ipsemg e das baixas gratificações para atividades de gestão, que resultam em alta rotatividade de profissionais e em dificuldades operacionais para compra de materiais. O setor responsável por esse serviço, com dois pregoeiros, não supre as demandas, segundo ela.
Técnica de saúde bucal, Cibele Silva entregou à deputada Beatriz Cerqueira relatório técnico que reforça o déficit de profissionais e a falta de medicamentos. Ela salientou que a demanda não é apenas por dentistas, mas também por técnicos e auxiliares, cuja defasagem é ainda maior.
A deputada Beatriz Cerqueira criticou a falta de investimentos do governo do Estado no Ipsemg e de concursos para recomposição do quadro de pessoal, o que ela entende ser uma política deliberada da gestão de Romeu Zema. Para novos encaminhamentos da comissão, a parlamentar Beatriz Cerqueira solicitou às gerências do CEM e do Centro Odontológico o envio de dados mais detalhados.
“Cobraremos a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) de providências para que o Ipsemg tenha seu potencial de atendimento valorizado, incluindo a nomeação de mais profissionais.”
Deputada Estadual Beatriz Cerqueira (PT)
Milhares de usuários do Ipsemg prejudicados em Uberlândia e região
Por exemplo, em fevereiro de 2024, o Hospital Santa Marta, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, encerrou o atendimento aos beneficiários do Ipsemg em um momento de elevação do número de casos de dengue. A suspensão afetou mais de 50 mil servidores públicos e seus dependentes em Uberlândia e todo o Triângulo Norte. Preocupada com o prejuízo aos usuários, a deputada Beatriz Cerqueira (PT) propôs, por meio de requerimento, a assinatura de um contrato emergencial entre o Ipsemg e o hospital de modo a manter o atendimento aos pacientes. A deputada questionou se não há nada que possa ser construído entre o hospital e o Ipsemg para funcionar de forma transitória, até se chegar a uma solução.
Porém, o presidente do Ipsemg, André dos Anjos, afirmou que o hospital tem dívida previdenciária com a União e com o Estado, o que inviabiliza a assinatura de novo contrato de atendimento. “O estabelecimento só voltará a atender pelo Ipsemg se conseguir sua regularização ou uma liminar na justiça.”
Denúncia na mídia
A reportagem de O TEMPO relatou o sofrimento de pacientes no Hospital Governador Israel Pinheiro (HGIP), em Belo Horizonte. Servidores e seus dependentes são literalmente abandonados nos corredores, sem atendimento adequado. Quem busca assistência na rede credenciada também enfrenta dificuldades no acesso, já que seriam muitos os casos de recusa ou interrupção de tratamento fora da rede própria do instituto, de acordo com alguns beneficiários.
“As imagens dos trabalhadores e pacientes divulgadas pelo Jornal O Tempo reforçam que o sucateamento da rede não é de hoje. Ele vem desde 2019, com o início da gestão Zema. Além da falta de concurso para reposição de trabalhadores em várias áreas, o governo insiste no veto para retirar a garantia de assistência pelo Ipsemg aos aposentados e aposentadas que atuavam como contratados no estado.”
O veto ao direito ao Ipsemg
Enquanto os usuários do Ipsemg seguem à mingua, Zema mantém seu governo priorizando os interesses dos mais poderosos. Não é por acaso que o governador concedeu isenção bilionária à Localiza, cujo dono, Salim Mattar, foi o principal doador de sua campanha eleitoral.
Recentemente, o governador rejeitou a garantia do atendimento médico e odontológico do Ipsemg aos contratados aposentados pelo INSS, proposta por emenda da deputada Beatriz Cerqueira (PT) ao Projeto de Lei Complementar (PLC) 35/23. Na ALMG, os deputados do Bloco Democracia e Luta trabalham pela derruba do veto desumano de Zema.
Servidores defendem vínculo de contratados aposentados com Ipsemg
*Matéria elaborada com informações do site da ALMG