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Mulheres enfretam cenário de exclusão política em Minas Gerais

A conclusão foi feita durante audiência pública de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que debateu a sub-representação feminina na política mineira

Mulheres ainda enfretam cenário de exclusão política em Minas Gerais
Foto: Elizabete Guimarães

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) se reuniu na sexta-feira (24/5/24) para debater os fatores de exclusão política das mulheres mineiras dos cargos do poder local nas diversas regiões de Minas Gerais. A reunião foi resultado de um requerimento feito pela deputada estadual do Bloco Democracia e Luta e presidenta da comissão, Ana Paula Siqueira (Rede).

Durante a audiência, a sub-representação das mulheres mineiras nos espaços políticos foi comprovada por dados do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (Nepem/UFMG). De acordo com a pesquisa, dos 853 municípios mineiros, 188 não têm vereadoras, e em 333 apenas uma mulher tem mandato nas câmaras municipais. Além disso, no Estado, apenas 64 cidades são administradas por mulheres e só em São Gotardo, no Alto Paranaíba, a prefeita, Denise Abadia Pereira Oliveira, é negra. Já na Região Metropolitana de Belo Horizonte, composta por 34 municípios, apenas quatro mulheres, autodeclaradas brancas, exercem o cargo de prefeita. 

A parlamentar autora do requerimento lamentou o cenário: “apesar de sermos a maioria no eleitorado, as mulheres ainda são sub-representadas na política, especialmente as negras”. Ela lembrou que a exclusão feminina se faz em todos os poderes, Judiciário, Legislativo e Executivo e que a situação se repete em todo o Brasil. Dentre os 5.568 municípios brasileiros, 978 não têm representação feminina nas câmaras municipais e em 3.185 nenhuma mulher negra ocupa cargo de vereadora.

“Não há democracia plena sem a participação das mulheres. Se quisermos uma sociedade que seja de fato justa e igualitária para todos e para todos, nós temos que garantir a participação das mulheres nesse espaço de decisão, sobretudo no espaço de decisão política.”

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Deputada estadual Ana Paula Siqueira (Rede), Presidenta da Comissão dos Direitos da Mulher 

Também participaram da audiência pública pesquisadoras sobre o assunto. A subcoordenadora do Nepem/UFMG afirmou que a sub-representação ocorre também nas candidaturas de mulheres para mandatos de vereadoras. Em todo o país, não ultrapassam os 30% obrigatórios pela cota exigida dos partidos. Mulheres indígenas são ainda mais prejudicadas. Nas últimas eleições municipais, apenas Belo Horizonte teve uma candidata da etnia, que não se elegeu. 

Segundo a especialista, com a imposição das cotas de mulheres, houve aumento de candidaturas femininas, entre 2002 e 2022, mas isso não se converteu em mulheres eleitas na mesma proporção. “Precisamos ter uma rede organizada de mulheres para apoiar todo o processo eleitoral, desde as candidaturas, durante o mandato e no enfrentamento à violência política”, explicou Alessandra.

A presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Ana Jade Beatriz Martins, sugeriu incentivar a eleição de mulheres jovens. “A candidatura é muito necessária, mas eleger é mais necessário ainda”, declarou.

Mulheres são também vítimas de violência política

A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), também membro do Bloco Democracia e Luta, esteve presente na reunião e lembrou que, além das dificuldades para acessar os espaços de poder, as mulheres que conseguem superar e conquistar cargos sofrem violência política no exercício dos mandatos. Ela relatou as ameaças que sofreu juntamente com as deputadas Lohanna (PV) e Bella Gonçalves (Psol). Contou, também, da perseguição sofrida pela colega Ana Paula Siqueira, durante realização de audiências públicas, boicotadas por setores econômicos. 

“Tentam nos desqualificar o tempo todo”, afirmou Beatriz Cerqueira, que citou, ainda, notícias falsas e deturpadas disseminadas nas redes sociais. Ela alertou que, com a proximidade das eleições, essas práticas tendem a se intensificar.

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Deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT)

O coordenador do Centro de Apoio Eleitoral do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Emmanuel Levenhagen Pelegrini, lembrou que o responsável pelas ameaças às deputadas da ALMG foi preso, no dia 7 de maio, em Olinda (PE). Ele explicou que os ameaçadores costumam atuar de outros estados ou até de fora do país, confiando na impunidade.

Pelegrini disse que o MPMG tem realizado capacitações de promotores para prevenir e combater a violência política de gênero. “Precisamos de apoio de todos os poderes e sociedade civil para enfrentamento do problema, que desestimula mulheres a participarem de eleições”, afirmou.

A pesquisadora do Nepem/UFMG Viviane Coelho Moreira afirmou que a violência também desencoraja as mulheres a permanecerem na política. De acordo com dados do Instituto Marielle Franco, apresentados por ela, a violência psicológica foi praticada contra 98,5% das candidatas das eleições 2020 e 80% das ameaças foram feitas no ambiente virtual. “A violência política é mais uma das facetas do patriarcado e compromete a democracia, porque impede que muitas participem dos espaços de poderes”, ressaltou.

Lei aguarda regulamentação

Para combater o cenário de exclusão e violência que as mulheres sofrem na política, as deputadas Ana Paula Siqueira, Beatriz Cerqueira, Andréia de Jesus (PT) e da 1ª vice-presidenta da ALMG, deputada Leninha (PT), criaram a  Lei 24.466, de 2023, que institui a política de enfrentamento à violência política contra a mulher no Estado. 

Fruto do Projeto de Lei 2.309/20, a a política agora aguarda regulamentação por parte do Estado, que deve constituir, no âmbito do Poder Executivo, um grupo de trabalho reunindo os órgãos públicos e a sociedade civil que definirá de forma conjunta e democrática os fluxos necessários para atendimento do que prevê a política.  

*Matéria elaborada com informações da ALMG

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