Durante visita, Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social constatou problemas em áreas como CTIs adulto e neonatal

Em meio à emergência em saúde decretada pelo Estado devido ao aumento das doenças respiratórias em Minas Gerais, a situação do Hospital Júlia Kubitschek é alarmante e confirma o colapso na saúde pública mineira sob a gestão do governador Romeu Zema (Novo). Durante visita à unidade, nessa segunda-feira (05/05/25), a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) constatou as graves denúncias de extrema precarização e abandono, já adiantadas por servidores.
Localizado na região do Barreiro, na capital mineira, o hospital faz parte do complexo da Fhemig, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais que reúne vários hospitais que estão na mira da privatização pelo governo Zema. Inaugurado em 1958, Hospital Júlia Kubitschek é referência em diversas especialidades como clínica médica, obstetrícia e pneumologia. No entanto, a realidade encontrada pelo deputado Lucas Lasmar (Rede), membro da Comissão de Saúde, e por representantes do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde (Sind-Saúde/MG), foi desoladora.
O bloco cirúrgico, que conta com sete salas, tem apenas três em funcionamento, por falta de profissionais. Dois blocos hospitalares com capacidade para 80 leitos seguem com obras inacabadas. Além disso, duas alas com 16 leitos de pós-operatório estão totalmente desativadas.
Na Unidade Neonatal, apenas sete técnicos de enfermagem estão disponíveis para atender dez leitos de terapia intensiva, quando o ideal seria nove. No CTI adulto, 12 dos 40 leitos permanecem fechados por falta de profissionais. Numa das salas de cirurgia, técnicos de enfermagem disseram que os quatro técnicos se desdobram ao limite para cuidar da medicação prescrita por cinco médicos.
Das quatro salas obstétricas, apenas uma possui ar-condicionado funcionando – uma das salas está com o equipamento quebrado há dois anos. Também foi confirmada a falta de insumos básicos em setores essenciais, como o CTI e o bloco cirúrgico.
No ambulatório de pneumologia, a oferta de atendimentos caiu pela metade devido à aposentadoria de médicos sem reposição do quadro. Além disso, as condições físicas do local são preocupantes, com baias trancadas que deveriam ser vestiários e banheiros, servindo como depósito.
“Os profissionais estão adoecendo, sobrecarregados e expostos a condições de trabalho indignas. Essa é a consequência direta do abandono e do descaso do Governo do Estado com a saúde pública”, afirmou o deputado Lucas Lasmar após a visita.
Servidores apontam exaustão
A exaustão entre os servidores é evidente, com relatos de sobrecarga e até assédio moral. Aline Parente Costa, técnica de enfermagem na unidade neonatal, expressou sua frustração: “A sobrecarga exige chamar concursados ou colocar pessoas em hora extra.”
Diretora executiva Sind-Saúde/MG, Neuza Freitas conta que a visita ocorreu após a entidade receber diversos relatos de trabalhadores do local sobre as irregularidades.
“O motivo para os leitos estarem fechados não é falta de equipamento, mas de pessoal, o que é muito grave. Temos trabalhadores atendendo dois setores ao mesmo tempo. Isso coloca em risco tanto o trabalhador quanto o paciente que está sob seus cuidados. Além disso, temos ainda as obras intermináveis, que também colocam todos em risco”, denuncia.
Para deputado, há falta de prioridade do Estado
Para o deputado Lucas Lasmar, além da falta de pessoal verificada durante a visita, a situação do atendimento no Hospital Júlia Kubitschek foi agravada pelo corte de horas extras, até recentemente.
“Ver aqui 12 leitos de CTI fechados quando há um decreto de emergência do Estado, um bloco cirúrgico com sete salas e só três funcionando e duas alas de internação fechadas mostra que o Estado não se prepara. Falta prioridade à saúde, fortalecendo as estruturas já existentes.”
Conforme Lucas Lasmar, uma audiência pública na ALMG deverá aprofundar o debate sobre a situação do hospital.
Fechamento de laboratório e obras também geram questionamentos
Na visita, o sindicato ainda denunciou a intenção da direção de desativar o laboratório de análises clínicas da unidade, uma vez que foi iniciada a transferência de exames para o Hospital João XXIII. “Isso com riscos para a qualidade dos materiais coletados durante o trajeto”, criticou Neuza Freitas.
Auditoria
Sucessivas obras que começam e não terminam ou se repetem no hospital foram também apontadas na visita pela representante do SindSaúde. “O Júlia tem uma história de canteiro de obras, o que merece uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado questionando essas obras eternas, seus valores, licitações e empresas”, reivindicou.
Com informações de ALMG e Jornal EM.