Os seis hospitais regionais que serviram de plataforma para a campanha de reeleição de Zema, em 2022, ainda não foram entregues e milhões de mineiros aguardam a conclusão das obras prometidas

A entrega das unidades de saúde foi um compromisso formal do governador Romeu Zema (Novo) em seu plano de governo, apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022. No documento, a promessa de “concluir os hospitais regionais para reduzir os vazios assistenciais” foi destacada como um dos pilares para o fortalecimento da saúde em Minas Gerais.
Entretanto, mais da metade do seu segundo mandato já se passou e nenhuma obra foi concluída. Zema não divulga prazos concretos para as unidades previstas em Conselheiro Lafaiete, Sete Lagoas, Divinópolis, Governador Valadares e Teófilo Otoni. Em Juiz de Fora, o governador já admitiu que não entregará a obra.
Saúde de Juiz de Fora sofre com desgoverno Zema
A situação de Juiz de Fora, município da Zona da Mata, é uma das mais preocupantes. Como se não bastasse o governador assumir que não entregará as obras do Hospital Regional, que estão 56% concluídas, Zema ainda cobra da Prefeitura R$ 28 milhões que teriam sido pagos pelo Estado para a construção da unidade.
A prefeita Margarida Salomão (PT) gestão municipal nega a existência da dívida e diz que os valores cobrados são de dívidas de administrações passadas e que o pagamento já havia sido acordado com o governo de Zema, em 2022, a partir de proposta da própria Secretaria de Estado de Saúde. O acordo feito à época previa a transferência do terreno do hospital para o governo de Minas Gerais como forma de quitação da dívida e, em contrapartida, o Estado concluiria a obra da unidade. No entanto, em janeiro deste ano o governador, que não tem palavra, descumpriu o acordo e bloqueou o envio de recursos à saúde de Juiz de Fora, condicionando o repasse ao pagamento dos R$ 28 milhões.
Para conter a medida arbitrária de Zema, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) moveu uma Ação Civil Pública contra o Estado. A ação foi acatada pela Justiça, que determinou a retomada do repasse de recursos ao município e a suspensão da cobrança.
“Para não dar continuidade às obras do Hospital Regional em JF, o “Pinóquio que governa Minas” acusou o município de ter dívida com o Estado e ainda bloqueia repasses financeiros. É um combo de maldade e conversa pra boi dormir de Zema. Tanto que o MP afirma que quem descumpre o acordo firmado para conclusão das obras é o governador. O bloqueio portanto não se justifica”.

Essa não foi a primeira vez que o MPMG teve que intervir no caso. Em setembro de 2024, o Ministério Público já havia ajuizado outra ação contra o governo do Estado, exigindo a retomada das obras e uma série de medidas, como a abertura de processo licitatório para contração de empresa responsável pela retomada das obras e o bloqueio de R$ 150 milhões destinados à conclusão da unidade.
O Hospital Regional de Juiz de Fora tornou-se um verdadeiro “elefante branco” de Minas Gerais – uma obra monumental, cara e abandonada, que simboliza a ineficiência e as promessas vazias do governo Zema, que após reiteradas promessas de conclusão, em abril do ano passado, anunciou que não retomaria as obras, alegando falhas estruturais graves. A pergunta que fica é: como o governo que Zema chama de “eficiente” demorou anos para identificar falhas na estrutura do hospital?
Hospital de Conselheiro Lafaiete tem futuro incerto
Em Conselheiro Lafaiete, na região Central de Minas, a população também aguarda a conclusão do hospital regional, cujas obras foram paralisadas após a construção de 44% da unidade. O governo estadual, que inicialmente prometeu entregar o hospital no segundo semestre de 2025, adiou a obra para o fim de 2026, sem garantia de que será concluída.
O hospital foi projetado para atender 800 mil pessoas de 51 municípios da macrorregião Centro-Sul de Minas Gerais, incluindo Barbacena, São João del-Rei, Congonhas e Conselheiro Lafaiete. Em março de 2023, o Governo do Estado anunciou que a revisão dos projetos de engenharia estava em andamento, com cerca de 25% concluídos, e que, após essa fase, o prazo de execução seria de um ano e quatro meses.
No entanto, uma reportagem do Correio de Minas, em junho de 2024, apontou que menos de 5% das intervenções estavam concluídas até então. A revisão dos projetos de engenharia, que deveria acelerar o processo, é, na verdade, mais uma etapa no jogo de empurra da gestão Zema.
Zema usa obra do Hospital de Divinópolis como palanque eleitoral
A população da região Centro-Oeste do estado também é prejudicada pelo descaso de Zema. Em fevereiro de 2023, o governador visitou o Hospital Regional de Divinópolis e assinou a ordem de serviço para a retomada das obras, prometendo a conclusão em até dois anos. No entanto, até hoje a população segue sem a infraestrutura de saúde prometida.
Durante a visita, Zema garantiu que as obras estavam em andamento, mas, dois meses depois, em abril de 2023, a deputada estadual Lohanna (PV), do Bloco Democracia e Luta, denunciou que as obras continuavam paralisadas.
Nas redes sociais, a parlamentar desmentiu as afirmações de Zema de que os hospitais regionais estavam “a pleno vapor”. Em visita ao Hospital Regional de Divinópolis, a deputada mostrou que o local estava vazio e sem qualquer sinal de atividades.
Em dezembro de 2023, o Governo de Minas, por meio das secretarias de Infraestrutura e Saúde, realizou uma visita técnica ao hospital para anunciar a retomada das obras. O secretário de Infraestrutura, Pedro Bruno Barros, informou que 37% da fase de revisão de projetos estava concluída e que o objetivo era finalizar a atualização das normas de engenharia hospitalar até março de 2024.
No entanto, em fevereiro de 2024, um ano após a visita de Zema, a deputada Lohanna voltou a denunciar que as obras permaneciam paradas. Em setembro, após mais uma visita do governador ao local, a parlamentar novamente destacou o descaso, a falta de transparência e a irresponsabilidade do governo na conclusão do hospital. Agora, a previsão de entrega foi adiada mais uma vez para o final de 2026, o projeto conta com um orçamento de cerca de R$ 40 milhões.
“Zema disse, no primeiro mandato, que iria concluir essas obras, mas não cumpriu. Elas serviram de palanque eleitoral para a reeleição. Já estamos no meio do segundo mandato, e o hospital ainda não está pronto, enquanto as pessoas dependem desse hospital e vidas são perdidas.”
Deputada Estadual Lohanna França (PV)
Compromisso do governo federal: Durante agenda em Minas Gerais, no dia 30 de março de 2025, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou o compromisso do governo federal com a saúde pública no estado e criticou os embates políticos promovidos pelo governador Romeu Zema. Padilha destacou que, ao contrário do que o governador vem demonstrando, o foco do Ministério da Saúde tem sido atuar de forma cooperativa com o estado e os municípios. Ele afirmou que o Governo Federal, através da parceria do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação, vai assumir e botar para funcionar o hospital.
População das regiões Central, Vale do Rio Doce e Mucuri também sofre com obras paralisadas
Além dos hospitais de Juiz de Fora, Conselheiro Lafaiete e Divinópolis, as obras em Sete Lagoas, na região Central, e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, que demandarão investimentos de R$ 35,2 milhões e R$ 101,6 milhões, respectivamente, também enfrentam atrasos significativos. Em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, onde o investimento ultrapassa R$ 75 milhões, o processo de licitação ficou parado por um ano em 2022, e as obras foram retomadas apenas em 2024. As obras de Sete Lagoas também foram reiniciadas somente em 2024, com a finalidade de adequar o projeto às normas hospitalares atuais e finalizar a construção. Dentre os hospitais, apenas o de Teófilo Otoni está previsto para ser concluído no segundo semestre de 2025.
Enquanto isso, milhares de famílias aguardam a conclusão das obras, e a população mineira sofre com a falta de atendimento. A conclusão desses hospitais poderia beneficiar até 6,7 milhões de pessoas em diversas regiões do estado, que enfrentam enormes lacunas nos serviços de saúde. Zema falha em cumprir as promessas que asseguraram sua reeleição, deixando obras essenciais abandonadas e a população sem as melhorias prometidas. Com prazos incertos, promessas não cumpridas e uma gestão marcada pela falta de transparência, os hospitais regionais de Minas Gerais são um símbolo da ineficiência do governo de Romeu Zema.
Fontes: Estado de Minas, Portal MPA, Correio de Minas, O Tempo