Falta de investimentos na área pode colocar fim à mais tradicional competição esportiva do estado, o JIMI.
Representantes de federações, clubes esportivos, municípios, empresas e entidades que apoiam o esporte reclamaram da negligência por parte do Governo de Zema com o setor no estado. Devido à falta de investimentos na área, eventos como o JIMI (Jogos do Interior de Minas) estão cada vez mais reduzidos e correm o risco de serem extintos.
Atualmente, apenas o percentual de 0,05% da receita líquida de ICMS do estado é investido por meio da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte (LIE). O teto estipulado é de 0,5%. Com isso, em 2023, o investimento, que poderia ter ultrapassado R$ 260 milhões, foi de apenas R$ 26,1 milhões, esgotados já em julho. Reportagem especial do Jornal O Tempo, publicada no dia 22 de setembro, denunciou: Minas Gerais destina 10 vezes menos do que pode para Lei de Incentivo ao Esporte. Antes, no dia 19/09/23, os números já haviam sido revelados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O deputado Cristiano Silveira (PT), que solicitou a reunião da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude, fez uma comparação entre a porcentagem destinada ao Esporte pelos estados do Sudeste. O Rio de Janeiro e o Espírito Santo aplicam 0,5% da arrecadação de impostos (excluída a parcela dos municípios) na área esportiva. Já São Paulo, com arrecadação muito superior aos demais estados, destina 0,2%. Enquanto isso, Minas comandada por Zema investe irrisórios 0,05%.
Rafael Diniz, da Associação Natividade, calculou que se o valor de R$ 26 milhões do orçamento em 2023 fosse dividido igualmente pelos 853 municípios, cada um receberia R$30 mil. A mesma média para São Paulo ficaria em R$ 93 mil e para o Rio de Janeiro, em R$ 1,3 milhão por município. Na opinião dele, o valor mineiro é irrisório para um estado com dimensão da França e população igual a da Argentina.
Cristiano Silveira ainda comparou os investimentos mineiros em cultura, que também são muito reduzidos, em relação aos do esporte. Em 2021, foram R$ 116 milhões para a primeira e R$ 19 milhões para o último. Em 2023, R$ 156 milhões contra R$ 26 milhões.
De acordo com Helena Campos, coordenadora de Projetos Incentivados do Minas Tênis Clube, o esporte vai parar em Minas Gerais caso a atual lei de incentivo não for modificada rapidamente. Ela pediu a sensibilização do Executivo e lembrou que todo o orçamento destinado ao esporte em 2023, por meio dessa lei, foi utilizado até junho deste ano, restando às entidades envolvidas com o esporte aguardar até 2024 para receber recursos.
A coordenadora também destacou que o Minas Tênis conta com 38 projetos de esporte de alto rendimento em oito modalidades esportivas, atingindo 500 atletas, bancados pela lei de incentivo. “Ela é muito significativa para nós. Temos atletas do Estado se destacando no mundo, que veem um futuro pela frente. Essa parceria é fundamental para que os clubes levem adiante o esporte no Brasil”, avaliou.
Limitações orçamentárias não impediram isenções fiscais para amigos de Zema
Representantes do Governo de Minas apresentaram, mais uma vez, as dificuldades orçamentárias como justificativa para a crise esportiva vivenciada no estado. Contudo, há muitas contradições nos discurso do Executivo, uma delas é que, enquanto diz que não tem recursos para viabilizar políticas públicas para o povo, Romeu Zema concedeu inúmeras isenções fiscais para seu doador de campanha, o empresário Salim Mattar, fundador da Localiza.
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Falta de investimento no esporte prejudica realização dos Jimi
Um dos grandes prejudicados com o baixo volume de recursos no esporte são os Jimi, Jogos do Interior de Minas, evento realizado desde 1984, reunindo equipes de várias modalidades de municípios de todas as regiões do estado.
O deputado e narrador esportivo Mário Henrique Caixa (PV) saiu em defesa do torneio e enfatizou que sua primeira transmissão esportiva foi dos Jimi em Três Pontas (Sul). “O Jimi fez parte da formação de muitos atletas”, declarou ele, acrescentando que falta incentivo a esse evento.
Alexandre Valverde, da Diretoria de Esportes de Pará de Minas (Central), lembrou que os Jimi são um dos eventos esportivos mais tradicionais do Estado e não podem ser desvalorizados. De 2019 a 2021, o torneio ficou paralisado em função da pandemia. Em 2022, foram realizados os Jimi, mas só os Paralímpicos. Em 2023, os jogos foram retomados, mas apenas com um esporte, o futsal, masculino e feminino.
“Sabemos das dificuldades financeiras, mas acredito que o Estado tem condição de voltar com os Jimi como eram antes. Eles são importantíssimos não apenas para o esporte, mas também para o turismo, a cultura e a geração de emprego e renda dos municípios”, analisou.
Valverde, que já foi secretário de Esportes de Pitangui (Central), entre 2015 e 2019, afirmou que o município que sedia etapas regionais dos Jimi consegue ter um retorno de aproximadamente 10 vezes o valor que investe na competição.
Nelson Eustáquio, secretário de Esportes e Lazer de Itaúna (Centro-Oeste), destacou que obter recursos pela lei de incentivo foi a solução encontrada pelo município para conseguir investir no esporte. No ano passado, o município conseguiu captar R$ 5,8 milhões. “Temos muita demanda e pouco dinheiro. E saber que o recurso do Estado para o esporte acabou no meio do ano nos preocupa”, refletiu.
O secretário ainda enfatizou que são contemplados por projetos esportivos gratuitos mais de mil crianças e adolescentes, atendidos por cerca de 70 profissionais. Já os representantes das federações mineiras de basquete, Marcílio Kassim, e de handebol, Priscila Porto, reclamaram da insensibilidade do governo com a classe esportiva e da opção dos Jimi apenas pelo futebol.
Fonte: O Tempo e ALMG