Mulheres de várias organizações e sindicatos participaram da audiência da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada nessa terça-feira (11/07/23) para discutir a Marcha das Margaridas 2023. A sétima edição do evento pretende levar a Brasília, nos dias 15 e 16 de agosto, cerca de 100 mil pessoas.
O movimento acontece a cada quatro anos e foi iniciado em 2000, composto sobretudo por mulheres do campo, que prestam homenagem à trabalhadora rural e líder sindical Margarida Maria Alves. A paraibana foi executada sumariamente em 12 de agosto de 1983, com um tiro no rosto, na presença de seu marido e de seu filho, aos 51 anos de idade. Ela era ameaçada pelos latifundiários da região antes de seu assassinato.
Neste ano, as margaridas marcham “pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”.
A vice-presidenta da ALMG, deputada Leninha (PT) ressaltou:
“É um tema importante para nós que somos guardiãs desse projeto de bem viver no mundo, que buscamos paz, trabalho e segurança”
A deputada Ana Paula Siqueira (Rede), presidenta da Comissão das Mulheres, citou conquistas importantes do governo Lula, como a maior presença de mulheres nos ministérios e a retomada de conselhos. “Estamos reconstruindo a democracia participativa, a soberania popular. Mas não faremos a reconstrução do país sem a democracia de gênero”, avaliou.
A reunião foi pautada nos valores de diversidade, união, força coletiva, luta e esperança, mas as mulheres também relataram diversos problemas como o descaso do governo Zema, a opressão na política e os altos índices de violência em Minas Gerais.
Apesar dos avanços, Minas tem muito o que melhorar
Mesmo pontuando as conquistas recentes da luta das mulheres, as participantes enfatizaram os desafios ainda impostos, que demandam uma luta constante. A organização da Marcha das Margaridas já entregou ao presidente Lula uma pauta de reivindicações com 13 eixos que incluem desde a vida livre de violências até a autonomia econômica e a inclusão digital.
A pauta mineira segue o mesmo plano, mas possui suas particularidades, como a negligência do governador Romeu Zema em priorizar e desenvolver políticas voltadas para os direitos das mulheres.
Parlamentares do Bloco Democracia e Luta se manifestaram em apoio à Marcha das Margaridas e fizeram cobranças ao Executivo por medidas eficientes sobre o tema.
Ana Paula Siqueira destacou o alto índice de casos de violência contra a mulher:
“O Estado lidera o ranking de violência e vai na contramão de todo o arcabouço pensado para a política das mulheres, que é transversal”
Segundo dados da Polícia Civil, nos últimos três anos, o número de feminicídios em Minas Gerais cresceu, sendo que em 2022 esse aumento foi de quase 10%. Nesse mesmo ano, 16 mulheres, em média, sofreram tentativa de feminicídio e 14 foram mortas por mês.
O deputado Doutor Jean Freire (PT) também pontuou o abandono que as pautas femininas sofreram durante o governo Bolsonaro e sofrem em Minas Gerais com o governo Zema. Ele ainda lembrou a importância do apoio dos homens à luta pela conquista dos direitos das mulheres.
Além disso, as integrantes mineiras da Marcha das Margaridas também demandaram a recomposição e reestruturação do Conselho Estadual das Mulheres. Elas também trouxeram a necessidade de garantir mais recursos para a realização das conferências de mulheres em todo o Estado, principalmente em defesa das mulheres do campo, que enfrentam inúmeras dificuldades para denunciar as violências que sofrem.
Alaíde Moraes, coordenadora estadual de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg) justificou:
“Desde 2021, o conselho não se reúne. Foi destituído. Precisamos trazer a marcha para o Estado e os municípios porque é aqui que a política acontece”
Outro ponto também discutido foi o preconceito e discriminação. A deputada Macaé Evaristo (PT) afirmou:
“O direito das crianças à educação do campo ficou esquecido nos últimos anos. Sem isso é difícil a mulher garantir sua independência e inserção no mercado de trabalho”.
Violência política
As deputadas Andréia de Jesus (PT) e Beatriz Cerqueira (PT) citaram a violência política como um impedimento do pleno exercício das mulheres nos cargos públicos.
Andreia de Jesus destacou:
“A marcha marca esse lugar de luta exaustiva das mulheres.”
A secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), Maria José Morais da Costa, relatou a diversidade na marcha. São mulheres camponesas, quilombolas, indígenas, cirandeiras, quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras, ribeirinhas e extrativistas de todo o Brasil. A secretária ressaltou a importância de uma maior visibilidade e presenças nos espaços de representação.
Fonte: ALMG e Polícia Civil de Minas Gerais