Audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais – ALMG, ocorrida na quarta-feira (12/4/23), foi palco de debates e protestos sobre a tentativa de censura do governo Zema contra o espetáculo “.m.a.n.i.f.e.s.t.a.”, da Companhia de Dança do Palácio das Artes, que foi abruptamente cancelado, depois de grande sucesso em duas apresentações. Além disso, o diretor artístico e outras pessoas envolvidas na montagem foram exoneradas ou tiveram seus contratos rescindidos. Essa e outras denúncias feitas durante a audiência evidenciaram o desmonte da cultura em Minas Gerais. A reunião foi fruto de requerimento das deputadas do Bloco Democracia e Luta: Lohanna (PV), Andreia de Jesus (PT) e Macaé Evaristo (PT).
O espetáculo
“.m.a.n.i.f.e.s.t.a.” estreou em novembro do ano passado como uma criação coletiva inspirada nos manifestos Pau-Brasil e Antropófago, de Oswald de Andrade. O espetáculo marcou o centenário da Semana de Arte Moderna, de 1922 e a comemoração de 50 anos da companhia com duas apresentações de grande sucesso.
A censura
Novas datas tinham sido marcadas para a reapresentação da atração em março de 2023, contudo houve o cancelamento das datas e a exoneração de Cristiano Reis, diretor do grupo de dança. Essa clara censura, motivada por interesses políticos foi apontada por integrantes da companhia na época e durante a audiência da Comissão de Cultura.
A diretora da produção, Marise Dinis Sousa, pontua: “Algo na criação e na repercussão do espetáculo incomodou esta gestão. Desde o início nos foi sugerido corte nos cachês e realização da peça sem figurino”. Além disso, Kênia Dias, a outra diretora, também apontou que uma série de acontecimentos e de falas indicam uma ação em rede. Um desses casos foi o convite feito pela assessora artística da Fundação Clóvis Salgado (FCS), Cláudia Malta, ao artista Tuca Pinheiro para que ele assumisse o cargo de diretor, desde que excluísse de suas redes sociais críticas ao ex-presidente e genocida, Jair Bolsonaro.
Cristiano Reis, ex-diretor da companhia concedeu uma entrevista fora da reunião na ALGM. Em sua declaração ele explicou as possíveis motivações para a interrupção de “.m.a.n.i.f.e.s.t.a.”. De acordo com ele, o espetáculo buscou atualizar o movimento modernista para os dias atuais.
“O que ele trouxe? O que sugeriu? E o que ficou em off, não apareceu? Então vieram questões sobre os negros, sobre a democracia, sobre a representatividade.”
O ex-diretor também denunciou falta de cuidado não só com a Companhia de Dança, mas com o Palácio das Artes e com a cultura de um modo geral.
“Não sou artista de uma gestão. Conheço cada lâmpada queimada, cada teto caindo daquele lugar. E amo aquele lugar”.
Durante a reunião, um dos requerimento aprovados foi de autoria da deputada Lohanna, que prevê visita às instalações do Palácio das Artes. Outro ponto levantado pela parlamentar foi a ausência do secretário de Cultura, Leônidas Oliveira. “Defendo a convocação de secretário que não comparece”, criticou.
Após ouvir os relatos reveladores e contundentes dos convidados, a deputada Lohanna também averiguou que houve censura e acontecimentos em rede. Ela anunciou que fará denúncia ao Ministério Público , principalmente sobre o caso envolvendo Cláudia Malta. A assessora artística da Fundação Clóvis Salgado (FCS) foi convidada para a audiência, mas não compareceu.
Cultura em ruínas
Outro presente na reunião que denunciou um verdadeiro esquema de desmonte na cultura foi o diretor de teatro Lourival Reis Júnior, que é coordenador de coletivos culturais e membro do Fórum Estadual de Cultura. De acordo com ele, Leônidas Oliveira foi secretário de Bolsonaro por um curto tempo e faz uma gestão ideológica na Secretaria de Cultura de Minas Gerais.
“É uma tragédia o que estamos vivendo, uma destruição da cultura por dentro e por fora. E o Conselho não consegue diálogo com ele.”
Para o diretor, a fusão das Secretarias de Cultura e de Turismo na atual Secult deu início ao desmonte e frisou a desqualificação e falta de interesse do governador pela cultura mineira.
“Zema nem sabe quem é Adélia Prado, a maior poeta mineira viva. É um vexame para Minas Gerais”
Outro deputado que também se posicionou contra a censura e o desmonte foi Leleco Pimentel (PT), que destacou a discussão da entrada da Secretaria de Esporte nesse grupo. Ele ainda criticou demissões arbitrárias na Rádio Inconfidência, também ligada à pasta da Cultura.
Fonte: Site ALMG
M.A.N.I.F.E.S.T.A. SEM CENSURA!
Minas não aceita censura!
Pressione o secretário de Cultura, Leônidas Oliveira, a rever a decisão e manter a apresentação do espetáculo.