Atlas da Violência avalia que situação no Estado deve acender alerta por mais proteção às mulheres negras

Mais pessoas têm sido assassinadas em Minas Gerais a cada ano desde 2021. O Estado enfrenta uma alta contínua nos homicídios, na contramão do cenário nacional, onde os índices vêm caindo no mesmo período. Dados do Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12 de maio), mostram que, em 2023, último ano da análise, 2.795 mineiros foram assassinados — ou seja, uma vida tirada a cada 3 horas. Em relação a 2021, houve um aumento de 8,4%, quando foram registrados 2.577 homicídios. Para se ter uma ideia do contraste, no mesmo período, o Brasil reduziu o número de assassinatos em 4,3%.
No país, os homicídios caíram de 47.847, em 2021, para 45.747, em 2023. Especialistas do Atlas da Violência indicam que, se por um lado o envelhecimento populacional em curso e a melhoria das estratégias de segurança pública contribuem para a redução dos crimes violentos, por outro, a flexibilização do porte de armas de fogo após 2019 “tem colocado um freio nessa maré de redução de mortes”. Em Minas Gerais, a pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp/UFMG), Ludmila Ribeiro, acrescenta um agravante: alianças entre organizações criminosas locais e facções nacionais.
“As alianças bem-sucedidas entre grupos criminosos do Estado e facções nacionais, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), são um dos principais fatores. Criminosos de outros estados passaram a se instalar em Minas Gerais, e o crime organizado se espalhou por todas as regiões do Estado”, explicou. De fato, nos últimos meses, Belo Horizonte tem enfrentado uma guerra entre integrantes do CV e do PCC, principalmente no Morro das Pedras, na região Oeste, e no Taquaril, na região Leste, onde, em abril, um grupo de traficantes do CV executou brutalmente um jovem por disputa de poder.
Violência doméstica ainda infla registros em MG, e homicídios de mulheres negras crescem 22%
Além disso, segundo a especialista Ludmila Ribeiro, o aumento no número de homicídios em Minas também é impulsionado pela violência doméstica, cujas principais vítimas são mulheres negras. Análise que é reforçada pelos dados do Atlas da Violência: segundo a pesquisa, em 2023, foram registradas 2.662 mulheres negras vítimas de assassinato no país, o que representa 68,2% do total de homicídios femininos. Em Minas, o número cresceu 22% em um ano — passando de 166 mulheres negras mortas em 2022 para 202 em 2023.
A título de comparação, os homicídios de mulheres não negras caíram de 101, em 2022, para 76, em 2023 — uma redução de 25%. Além disso, o número de vítimas negras é mais que o dobro do de não negras. “No caso de Minas, ainda que figure entre os Estados com as menores taxas de 2023, este crescimento [de homicídios de mulheres negras] deve servir para chamar atenção para o problema, que não deve ser visto como superado”, diz trecho da análise do Atlas da Violência.
Ludmila reforça que o Estado, historicamente moldado pelo patriarcado, torna a mulher negra mais vulnerável e desvalorizada na sociedade. “As mulheres negras são mais desvalorizadas, mais suscetíveis à violência. Trabalham o tempo todo, usam mais o transporte público e têm menos proteção nos espaços públicos. Essas condições as expõem a riscos maiores. E esse é um problema que expõe a vulnerabilidade das mulheres no geral, já que o número de feminicídios também representa um desafio para o Estado”, pontuou Ludmila.
Leia mais: Homicídios crescem em Minas Gerais, na contramão do país; entre mulheres negras, alta é de 22%